Você sabe o que fazer para inovar e não estagnar a escola? O Diário Escola te conta!
Inovar e não estagnar a escola! O verbo inovar tem encabeçado, cada vez mais, a lista de prioridades de empreendedores de todos os segmentos. Na Educação não poderia ser diferente.
E isso é ótimo, pois, com o perdão da redundância, só anda quem está em movimento.
Mas, claro, há muitos desafios nesse caminho. Um deles é saber equilibrar a atenção em aperfeiçoar o que já se tem e os esforços em prol da inovação.
O assunto é instigante e, sem dúvida, leva à reflexão.
Para elucidar mais a questão, o Diário Escola conversou com o doutor em Educação e professor do Departamento de Educação e do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Celso Luiz Aparecido Conti. Confira.
Como inovar e não estagnar a escola?
Para iniciar, convém pensar sobre alguns termos, hoje bastante comuns, principalmente nas áreas da economia, administração ou gestão.
Entre eles estão: inovação, estagnação, transformação, renovação e mudança. Assim, convém distinguir inicialmente inovação de invenção.
Esta última representa um modo diferente de se fazer algo, mas não necessariamente que a mudança proposta seja economicamente viável, factível, o que a qualificaria como algo inovador.
A falta de inovação – um conceito que ganha cada vez mais importância no universo competitivo das empresas – levaria à estagnação.
Quando pensamos na escola, entretanto, tal conceito precisa ser bem analisado quanto à sua pertinência.
Claro que a escola precisa produzir mudanças, mas essas não têm a ver, essencialmente, com viabilidade econômica, com mercado.
Em educação, melhor falar-se em transformação, frente a uma sociedade que muda tão rápida e radicalmente. Transformar a escola, nesse caso, não tem a ver apenas com demandas do mercado.
E sim com definição de um projeto de adaptação crítica da escola à sociedade atual, sem retirar dela seu caráter de emancipação das pessoas. Isso significa livrá-las de todas as amarras objetivas e subjetivas que as coloquem em situação de indignidade ou subalternidade.
Sem tal projeto, há o risco da reinvenção descontínua das instituições escolares; da tirania da inovação, que se torna um fim em si mesma, podendo, inclusive, levá-la ao imobilismo ou ao retrocesso.
Estagnar é ruim, mas perder o chão a todo momento pode ser pior, podendo deixar as instituições escolares à deriva. Para transformar a escola, portanto, na direção indicada, é preciso mudar a visão a respeito dela e, consequentemente, o jeito de administrá-la ou geri-la.
Quais os principais sinais de estagnação podem ser percebidos em uma escola?
A principal missão da escola, hoje e sempre, é ensinar e ensinar bem.
Preparar as novas gerações para a vida em sociedade. Ocorre que a sociedade muda, e hoje isso se dá de maneira mais rápida e radical.
Por isso, os sinais de estagnação estão, por um lado, associados à incapacidade de a escola acompanhar o processo de produção e distribuição do conhecimento:
hoje, por exemplo, não se aprende só na escola, mas também em outros lugares; não se aprende de uma única maneira, dados os recursos disponíveis e as novas formas de cognição.
Por outro lado, sinais de estagnação também podem ser verificados na incapacidade da escola de compreender esse processo de produção e distribuição do conhecimento de forma crítica, sabendo distinguir e valorizar os aspectos de emancipação presentes.
Emancipação da pessoa humana nos termos mais elevados do processo civilizatório.
O que deve servir de sinal de alerta para os gestores em relação ao risco de estagnação?
Os sinais de alerta para a estagnação têm a ver com a falta de capacidade crítica de incorporar o novo, mas também de encontrar no novo o que é emancipatório para as novas gerações.
Essa não é uma tarefa fácil. Mas é necessária para não cairmos no discurso fácil e precipitado da mudança a qualquer preço, sem que se saiba para onde ir e nem o que levar na bagagem.
Que dicas o senhor pode dar aos gestores sobre como inovar e não estagnar a escola?
A sociedade atual não se revela tão clara em relação às mudanças que vêm sofrendo. Não sabemos muito bem para onde estamos caminhando.
Por isso, compreender os rumos da escola é bastante desafiador. É necessário fortalecer alguns princípios antes de se pensar em ações concretas, ainda que sem elas nada mude, efetivamente.
Minhas dicas para que a escola não fique estagnada não são bem de natureza prática.
Elas têm mais a ver com alguns princípios a presidir o trabalho na escola, com implicações na atuação dos seus gestores. São elas:
ADMITIR
As várias possibilidades de se ensinar e de se aprender, superando a crença de que há um único caminho a seguir, um único “método” coerente, científico, racional.
As formas distintas, por exemplo, de arrumação da sala de aula, para fins pedagógicos. Utilizar a biblioteca de forma diversificada etc. Tudo isso baseado na crença de uma educação pelo diálogo.
A necessidade de se rever o conceito de autoridade, dando a ele um novo sentido face às mudanças em curso na sociedade. Hoje, e cada vez mais, a autoridade é algo a ser construído e legitimado.
Um sentido novo ao conhecimento. Desassociá-lo da ideia de erudição e associá-lo à capacidade de autoconhecimento e conhecimento do mundo em que vivemos.
VALORIZAR
Os diferentes conhecimentos, próprios das pessoas oriundas dos vários segmentos sociais, ainda que eles sejam, via de regra, classificados hierarquicamente.
Valorizar, assim, a articulação da escola com seu entorno. Promover a implicação dos familiares dos alunos com vistas a compreensão do mundo e da vida individual e coletiva de maneira mais abrangente.
COMPREENDER
A escola como uma instituição aprendente, capaz de se reinventar desde dentro, mas que também interage intensa e dinamicamente com o meio social.
Isso implica uma crença inabalável na participação e na convivência democrática, que fazem parte da gestão democrática da escola.
O novo sentido de liderança organizacional: hoje o diretor de escola tem de ser mais um dirigente, um intelectual, do que um burocrata. Deve ser apto a liderar e agir politicamente, aglutinando as forças capazes de produzir consensos rumo à transformação da escola.
Só a experiência profissional não dá a esse profissional a vitalidade política e ética e a competência técnica necessárias para administrar ou gerir a escola.
Ser apenas um empreendedor não é suficiente, porque a transformação, no sentido apresentado, é mais profunda do que a inovação.