À primeira vista, o conceito educacional Sala de Aula Invertida, também conhecido como flipped classroom, faz uma pegadinha para o cérebro.
Leva a pensar em abrir a porta de uma sala e encontrar o quadro-negro e a mesa do professor lá no fundo e as carteiras dos alunos viradas ao contrário do usual. Mas, ainda bem, não é nada disso. E, melhor, não é só isso.
Trata-se de uma modalidade de ensino que consiste em inverter o uso da sala em relação à forma convencional.
Ou seja: comumente, os estudantes assistem às aulas na escola e, salvo os trabalhos em grupo, fazem os deveres em casa sozinhos.
Na Sala de Aula Invertida o processo é, com o perdão da redundância, invertido.
Os alunos estudam em casa o conteúdo estabelecido previamente e já chegam à escola com um certo conhecimento.
Em sala de aula, o tempo é para interação com os colegas e o professor. Pode-se discutir a matéria, tirar dúvidas, aplicar conceitos, fazer a lição e outros projetos em grupo.
Otimização do tempo de sala de aula
Neste método entende-se que o tempo na escola deve ser otimizado. "Cada sujeito envolvido no processo é provocado a vir para a aula já com algum conhecimento do que será discutido. Esse preparo pode ser feito por meio de materiais disponibilizados pelo professor ou de pesquisas realizadas pelo próprio estudante", explica a ,
Cheila Daniane Marianof Milczarek, mestre em Educação e Diretora do Colégio Medianeira Erechim.
Segundo a dirigente, um dos principais objetivos da Sala de Aula Invertida é desenvolver no aluno autonomia e autorregulação no seu processo de aprendizagem.
"A proposta do método é tornar as aulas menos expositivas e, assim, promover maior participação dos alunos no que está sendo desenvolvido", justifica Cheila.
O coordenador pedagógico dos anos finais e do ensino médio do Colégio Medianeira Erechim, Giovan Longo, lembra que os procedimentos adotados na Sala Invertida não são novidade.
"Vários teóricos propuseram coisas semelhantes. No Brasil, devido à necessidade de se repensar a educação, tais procedimentos apareceram com força nesta metodologia. Ela valoriza o estudante como sujeito da própria aprendizagem e o professor como orientador do processo", conta Giovan.
O que é necessário para uma escola implantar o método?
De acordo com Cheila, não há uma exigência específica em relação a materiais ou espaços que devam ser adaptados para a utilização da Sala de Aula Invertida.
"É preciso, antes de tudo, disposição para mudar a forma como se vê o processo de aprendizagem", salienta a diretora do Colégio Medianeira Erechim.
O que pauta as escolhas pedagógicas, bem como os investimentos em estrutura, é o desejo de fazer diferente. E, mais do que isso, é obter melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem.
"Neste sentido, refletir acerca das formas de ensinar e aprender torna-se consequência. E a escolha por metodologias ativas, entre elas a Sala de Aula Invertida, surge como possibilidade de reorganizar o espaço-tempo de aprendizagem e mobilizar o protagonismo dos estudantes", contextualiza Cheila.
"Evidentemente, garantir no currículo espaços e tempos concretos para que os estudantes protagonizem sua aprendizagem é o desafio no movimento de disrupção pedagógica ou de inovação escolar", reconhece o coordenador pedagógico Giovan. "Essa decisão exige persistência e resiliência. Principalmente para romper com as concepções enraizadas que orientam as formas de ensinar a aprender."
Portanto, o estudo constante e a reflexão sobre a prática são balizadores fundamentais na mudança de postura docente e, por conseguinte, discente.
No caso da Rede Marista, o tempo de formação de professores é garantido pela escola.
Os objetivos priorizam o aprofundamento conceitual e a análise das necessidades de rupturas metodológicas e de inserção de novas práticas.
"No Marista Medianeira, as escolhas relacionadas aos métodos e aos recursos tecnológicos inovadores dialogam com a intencionalidade formativa de nossos estudantes. E são pautas diárias da reflexão docente", garante Cheila.
Características das metodologias ativas
O uso das metodologias ativas, conforme esclarece Giovan, tem a intenção de provocar movimentos – na sala de aula e fora dela – que incentivam a participação dos estudantes no processo de aprender.
Elas estimulam a criação de redes de relacionamento e de compartilhar conhecimentos que garantam espaços para:
- desenvolver a criatividade e buscar soluções para problemas reais;
- incentivar a pesquisa científica;
- promover espaço para o desenvolvimento de lideranças e a participação ativa na comunidade.
Como ocorre o aprendizado no método
Na Sala de Aula Invertida o estudante aprende por meio de sua participação ativa. Ele é provocado para o desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à pesquisa, a ser feita em casa, de forma prévia.
Na sala de aula, com a mediação do professor, partindo daquilo que já pesquisou previamente, o aluno tem a oportunidade de refletir sobre o que está sendo debatido.
A troca de ideias e experiências com a turma permite um maior aprofundamento do conteúdo que está sendo analisado.
"Eu percebo um envolvimento maior dos alunos com esta metodologia. Como eles já vêm para a aula sabendo do que se trata, têm a oportunidade de participar mais das discussões e das atividades. E isso acaba contribuindo para a sua aprendizagem", revela a professora de Geografia do Colégio Marista Erechim, Aline Nadal." Desta forma eles conseguem apontar dúvidas e fazer relações com o tema trabalhado."
As colegas de Aline no Marista, Josane Ranzi e Sandra Pogorzelski, também utilizam o método. Professoras do Currículo do Ensino Fundamental I, elas avaliam positivamente os resultados da aplicação.
"Os estudantes se envolvem em descobertas e experimentações, o que possibilita a interação com o conteúdo antes do estudo em sala de aula", ponderam as docentes. "É uma maneira de intensificar os seus conhecimentos prévios e integrá-los às novas informações.Tudo isso pensando criticamente sobre os conteúdos ensinados. Assim a aprendizagem torna-se mais eficaz, pois o aluno pensa em perguntas antes de buscar respostas."
Papel do professor
Na Sala de Aula Invertida, o professor aparece como mediador do conhecimento. Ajuda os estudantes a selecionarem fontes e materiais de pesquisa, bem como a processarem tudo a fim de transformar as informações em conhecimento.
"O professor também é responsável por provocar o estudante para que não considere um determinado montante de informações como conhecimento acabado", acrescenta Giovan.
Principal vantagem da metodologia
Na avaliação de Cheila, a vantagem mais importante da Sala de Aula Invertida é proporcionar a autonomia do estudante na aquisição de conhecimento.
"Ele se sente parte do processo ao se perceber também responsável pela própria formação", diz a diretora. "Essa autonomia provoca um maior comprometimento do aluno com o que está sendo estudado. Os conteúdos de cada componente curricular passam a 'fazer mais sentido'."
Uma metodologia educacional pode emocionar de diversas formas. Desde o motivo pelo qual foi criada até os frutos gerados por meio da sua aplicação. Mas o que encanta é, na verdade, a atitude. A generosidade.
Somente profissionais generosos dedicam-se tanto a pesquisar, aprofundar estudos e a trabalhar pela autonomia e autorregulação da aprendizagem dos seus alunos. Autonomia é liberdade. E educação é sinônimo de liberdade.
Entre as suas inúmeras definições, os professores são, acima de tudo, libertadores. E a verdadeira liberdade, a ser vivida em sociedade, só é plena com autonomia.